Memorial do aluno

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RESUMO

O presente ensaio brada por socorro imediato ao ensino brasileiro, almejando a democratização da escola, a busca incessante pela qualidade do ensino, a fim de assegurar aprendizagens significativas aos alunos, sintonizadas, em conteúdo e processo, com demandas atuais, e não apenas tempo de escolaridade. O processo de construção da igualdade de oportunidades, passando, primeiramente, pela valorização dos educadores, exige uma vigilância constante para que os excluídos e mesmo os inseridos na aprendizagem escolar sejam, cada vez mais, incluídos no mundo do letramento que, por sua vez, permite a construção e a ampliação dos saberes que abrem caminho para uma inserção efetiva na vida contemporânea.

O direito da criança à educação começa a ser assegurado em 1950, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança se constitui no instrumento dos direitos humanos mais universalmente ratificado em toda a História. No ano seguinte, no Brasil, é promulgado, o Estatuto da Criança e do Adolescente que, no seu capítulo IV, contempla, além do direito ao acesso, o direito a educação de qualidade.

Entretanto, a despeito da existência de legislação de âmbito nacional e internacional que assegure esses direitos, nota-se que, na prática, não se construiu uma cultura de acompanhamento ou vigilância e de exigência ou denúncia quanto ao cumprimento das normas legais.

Neste ponto, ressalte-se que, em que pese as normas supramencionadas, a militância familiar torna-se, sem dúvida, importante fator no processo de acompanhamento do trabalho escolar, na medida em que a aludida instituição revela-se como segmento social que dispõe de informações diárias sobre o funcionamento da escola e sobre o conteúdo das atividades que nela se desenvolvem, o que vem a se constituir em subsídio para uma participação efetiva e para as mais diversas formas de intervenção.

No entanto, apesar dos grandes saltos positivos que a educação conseguiu alcançar nas últimas décadas, observa-se que um dos maiores entraves ao sistema brasileiro de ensino é a dificuldade de se realizar profissionalmente como professor, o que, talvez, se confunda com a própria dificuldade socioeconômica do povo brasileiro, velada por uma falsa percepção de acessibilidade material.

A princípio, revela-se sobremaneira estranho que um futuro sonhador com a docência introduza o texto em análise com fundamentos obscuros, mas, infelizmente, trata-se da realidade do ensino no Brasil.

Não há duvida de que a pretensa melhoria do ensino pode ocorrer, sobretudo, por meio da valorização e renovação do trabalho dos educadores. Nesse sentido, porém, torna-se elevada a dificuldade para descrever “O que é ser professor?”, haja vista a nebulosa realidade da educação brasileira.

O ser-professor, por seu turno, tem sobrevivido ao tempo; seja como vilão ou herói, mas, sempre com seu valor intrínseco a sua importância na formação da sociedade. Neste ponto, insta revelar aos leitores a afável lembrança de minha primeira professora, ah! que saudade! Aquela senhora que, com seu jeito de mãe, amiga e criança, nos cativava cada dia mais, tia Doralice, esse o nome daquela figura sensacional, o gosto pela profissão era o seu maior trunfo, a ânsia de ensinar, o incansável labor; como podia uma pessoa formar-se com tanto esmero e destreza? Pergunta que nos dias atuais revela-se imaterial.

Passados os anos, a realidade referencial da educação se materializou e decepções se consolidaram, sem, no entanto, se sobreporem às alegrias. O método de aula nunca mudava, o professor à frente, expondo o seu saber, e os alunos enfileirados em silêncio; eis o processo de ensino arcaico, centralizado na figura do professor e focalizando a transmissão/repetição de conhecimentos já estabelecidos.

Chega-se à faculdade, que maravilha! Esse é o pensamento de muitos que, porém, em regra, se desfalece em meio a tanto descaso e balbúrdia. O método de aula não muda, os professores, não todos, mas uma grande maioria, se mostram prepotentes e desinteressados, escondendo-se atrás de titulações que, cada dia mais, tornam-se o esteio do desaprendizado. Não obstante, o sonho de cursar uma faculdade, cheio de fantasias, transforma-se, assim, em determinados momentos, em verdadeiro pesadelo.

Neste pequeno relato, poder-se-ia, de maneira medíocre, tentar descrever a estrutura e a proposta de um profissional de ensino em caráter ideal; entretanto, como estudante do ensino público brasileiro, verifica-se importante relatar a realidade cruel de descaso que se instalou em nossas instituições.

Deve-se lembrar, como Fonseca (2002)1 o fez, o quanto “a experiência de vida” revela-se importante na formação de um educador, uma vez que embasado em aprendizagens adquiridas no decorrer do tempo, sejam elas boas ou ruins, poder-se-á estabelecer um alicerce forte para a proposição das próprias bases teóricas e, principalmente, práticas. O ensino não é algo estático, imutável, pois se modifica com os próprios anseios sócio-culturais, razão pela qual, mister se faz que o educador tenha, no próprio ato de ensinar, uma eterna fonte de aprendizagem.

O cotidiano, por sua vez, pode ensinar muito a um educador. Neste ponto, revela-se importante observar que não se trata apenas do dia a dia em sala de aula, mas, também, da experiência enquanto educando, tal qual defende Fonseca, senão veja-se:

“Trata-se de construção cotidiana, uma experiência de lutas, desafios, decepções e vitórias. Os sujeitos constroem seus saberes permanentemente, no decorrer de suas vidas.” (2002)

A dinamicidade da profissão de educador, enquanto prática social, exige inovações constantes da classe de professores, se não tecnicamente, ao menos em termos de conhecimento, o que se caracteriza como formação continuada. Todavia, observa-se que, seja nos cursos destinados à formação inicial ou nos cursos superiores, os professores, nem sempre, dispõem de materiais bibliográficos para atualização ou tem a oportunidade de trocar experiências com colegas ou de discutir o seu trabalho em sala de aula com outros profissionais, possibilitando, assim, o real desenvolvimento profissional.

Hodiernamente, a efetividade socioeconômica do Brasil, ou, em termos mais acessíveis, o capitalismo selvagem, não permite, em regra, que os profissionais adquiram identidade profissional e com os educadores não se revela diferente, na medida em que o cidadão “globalizado”, cada dia mais, perde o poder de reflexão sobre suas atividades.

Neste ponto, tem-se importante os ensinamentos instituídos pela professora Pimenta (2000)2, , no sentido de se construir uma identidade profissional:

“Uma identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão; da revisão constante dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições…Constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor.”(2000)

Nesse sentido, torna-se complexo o conhecimento do educador, para não dizermos questionável, uma vez que, retomando, novamente, os ensinamentos da professora Pimenta(2000); uma das fases do conhecimento está ligada a inteligência, mas não a inteligência com o fim em si mesma, e sim aquela que consegue vincular-se ao conhecimento “de maneira útil e pertinente, isto é, de produzir novas formas de progresso e desenvolvimento; consciência e sabedoria envolvem reflexão, isto é, capacidade de produzir novas formas de existência, de humanização…É preciso informar e trabalhar as informações, para se construir a inteligência.”

A formação do educador revela-se, assim, como árduo desafio, pois, mesmo com a bagagem teórica e prática adquirida por ele, a realidade sócio econômica e cultural de nosso País, e, principalmente, a grande desvalorização da docência que, por seu turno, seria o primeiro quesito a ser observado por nossas autoridades, caso se almeje um novo rumo para a educação, não permite extensas modificações. É fato que uma política pública de valorização do sistema educacional brasileiro resolveria, sobremaneira, o pretenso problema da educação, mas, indubitavelmente, não eliminaria os maus hábitos que se instalaram no sistema.

Por outro lado, não se deve esquecer que o professor, como ser humano que o é, possui sentimentos, alegrias, dores, frustrações e problemas; o que revela a necessidade de visualizá-lo, também, como um ser social e, consequentemente, de respeitá-lo como tal.

Com isso, nota-se que o profissional que se propõe a ensinar tem, notadamente, além dos problemas estruturais, um desafio de imensas dimensões; que é o de ser respeitado como ser humano, com valores e princípios, com paixões e ódios, com verdades e mentiras, com sentimentos próprios. Tal fato, por si só, não permite o encerramento desse pequeno ensaio sem dedicar míseras linhas para explicitar nomes de alguns dos grandes profissionais que se fizeram presentes em minha vida acadêmica, como Luisa Helena Finotti, Antônio Mancini, Maria das Graças Nunes Ribeiro, Aldo Belaganha, Fernanda Mussalim, Lílian Calaça, José Maércio, Grênissa Stafuzza, Elaine Cintra, Enivalda, Ivan Marcos, Wagner Guerreiro e tantos outros grandes mestres, aos quais rendo meus agradecimentos nesta ocasião.

Diante o exposto, finda-se esse breve, entretanto, capcioso trabalho/desabafo, com uma perspectiva ínfima de mudança no cenário da educação brasileira, uma vez que referida modificação passa, primeiramente, pelo cumprimento, a contento, de obrigações instituídas pela Constituição da República Federativa do Brasil e não é nenhum segredo que, no Brasil, quando se depende da política em sentido estrito e dos Políticos em sentido macro, a burocracia se sobrepõe à democracia e o que seria direito das pessoas e, por conseguinte, uma obrigação do Estado, remete-se ao vexame que se encontra a realidade escolar brasileira em todos os níveis.

 

BIBLIOGRAFIA

1 – FONSECA, Selva Guimarães. Saberes da experiência, histórias de vida e formação docente. In: CICILLINI,Graça Aparecida: NOGUEIRA, Sandra Vidal (org) Educação Escolar: políticas, saberes e práticas pedagógicas. Uberlândia: EDUFU, 2002 p. 85-102

2 – RIOS,Terezinha Azeredo. Compreender e ensinar: por uma docência de melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001.

3 – Pimenta, Selma Garrido. Formação de professores: Identidades e saberes da docência. In:Saberes pedagógicos e identidade docente. São Paulo: Cortez, 2000.

4 – www.inep.gov.br/noticias/news92.htm

5 – PIMENTA, Aluísio. Educação e cultura: A construção da cidadania. São Paulo: Unimarco Editora, 1997

6 – FREIRE, Paulo e SHOR, ira. Medo e ousadia. O cotidiano do professor. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.

1 FONSECA, Selva Guimarães. Saberes da experiência, histórias de vida e formação docente. In: CICILLINI,Graça Aparecida: NOGUEIRA, Sandra Vidal (org) Educação Escolar: políticas, saberes e práticas pedagógicas. Uberlândia: EDUFU, 2002 p. 85-102

2 Pimenta, Selma Garrido. Formação de professores: Identidades e saberes da docência. In:Saberes pedagógicos e identidade docente. São Paulo: Cortez, 2000.

Donner Rodrigues Queiroz

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